domingo, 20 de março de 2011

SAÚDE DO WALFREDO...


Walfredo comemora (?) 38 anos


Poucas instituições de saúde estiveram tão presentes na história dos natalenses e dos potiguares em geral, como o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel. Desde as crises (no abastecimento, superlotação e corredores que remetem aos campos de guerra, com tantas macas e feridos) às vidas salvas na emergência. Ao chegar aos 38 anos de fundação, o maior complexo hospitalar do Rio Grande do Norte, possui fôlego para continuar recebendo, em média, 400 pacientes diariamente. Graças ao esforço do seu corpo médico, considerado o melhor do estado, a instituição não sucumbe, diante de tantas dificuldades estruturais.
Aos 14 dias de março de 1971, o então governador do Rio Grande do Norte, o próprio Walfredo Gurgel, inaugurava o Hospital Geral e Pronto Socorro de Natal. Um marco para a saúde pública na capital potiguar. No mesmo ano da fundação, ele morria, vitimado por um câncer de pulmão. Em sua homenagem, o complexo hospitalar mudou de titulação e nome.  Os relatos iniciais dos primeiros atendimentos realizados no hospital foram apagados por duas enchentes que destruíram parte do antigo arquivo em 1996 e 2001. Boletins de atendimento, prontuários e o que poderia subsidiar um senso acerca da quantidade de pessoas que foram atendidas no hospital, se perdeu. Sobraram apenas as lembranças na memória dos funcionários mais antigos, como o chefe do arquivo Erivaldo Siqueira, 53 anos.
 Comemorando 33 anos de trabalho no Walfredo Gurgel, ele relembra como eram feitos os prontuários. “Existia um funcionário para preencher a ficha dos pacientes e interná-los. Era tudo manual e infelizmente estes relatos se perderam quando a água invadiu a sala do arquivo”, relembra Erivaldo. Hoje, ele cuida de um acervo com cerca de 250 mil fichas de internações, prontuários e boletins. Falta espaço, porém, para tantos papéis e a estrutura recentemente adquirida para comportar as caixas de arquivo já é insuficiente.
 O gerenciamento de crises no Walfredo Gurgel é histórico. Certa vez, nos idos da década de 80, o então diretor Jussier Magalhães (que também era cirurgião plástico), convidou José Agripino,  governador do estado naquele período, para uma visita ao hospital. Propositalmente, o diretor retirou todos os pacientes do setor de queimados das enfermarias e os colocou no corredor de entrada. Desta forma, ele expôs a falta de insumos para a troca de curativos e a situação extrema na qual se encontrava o hospital naquele momento.
 Décadas se passaram e a realidade se mantém atual. Em 2010, o hospital enfrentou uma das suas piores crises que culminou com a renúncia de cinco dos seis diretores do complexo. Apesar do acúmulo de trabalho e das condições adversas, os médicos que integram o corpo clínico do hospital, assim como os residentes que aprendem na unidade o ofício da medicina, se orgulham do trabalho que realizam no Walfredo. Muito, porém, precisa ser feito pelo hospital para que possa se comemorar, de fato, mais um aniversário.

HWG tem os melhores profissionais de saúde do RN
Na contramão das dificuldades enfrentadas cotidianamente pelas equipes que fazem o Walfredo Gurgel, está a qualidade dos procedimentos realizados. Hospital de referência no atendimento às urgências e emergências, é lá que está parte dos melhores profissionais da área médica do Rio Grande do Norte. É o que comprova o cirurgião geral Edmar Montenegro.

 Ele relata suas experiências e atesta a qualidade dos médicos e enfermeiros que atuam no hospital quando relembra de alguns casos. “Já atendi inúmeros pacientes de classe média alta que dispõe de planos de saúde e só tiveram suas vidas salvas porque foram atendidos aqui”, ressalta Montenegro. Ele cita como exemplo, uma das vítimas do acidente automobilístico que matou o jovem Alan Almoedo Moura na Avenida Hermes da Fonseca recentemente.
 O carro que se chocou contra um muro era ocupado por sete rapazes. “Uma das vítimas chegou ao Walfredo com o baço rompido, hemorragia interna e acúmulo de sangue numa determinada parte do corpo. Se ele não tivesse vindo para cá, teria morrido”, afirma o cirurgião. O adolescente que foi salvo por Montenegro e sua equipe, é filho de um outro médico que atua no Walfredo Gurgel. Somente dias depois a cirurgia, ele foi transferido para um hospital da rede privada.
 Apesar de ter os melhores profissionais em seu quadro médico, o atendimento no hospital está longe de ser um exemplo a ser seguido pelas demais unidades estaduais. O problema, porém, é conjuntural e reflete nos serviços do Walfredo, especialmente. Parte do atendimento que deveria ser realizado nas unidades básicas de saúde, os postos geridos pelo Município, são realizados no hospital pela falta de estrutura e medicamentos na rede municipal.

Residentes
Os casos que chegam ao HWG, sejam nas emergências ou no atendimento clínico, são uma fonte de aprendizado para os profissionais da medicina. “Para quem está disposto a aprender, este hospital é mais que uma escola”, disse o cirurgião geral Edmar Montenegro, há 21 anos trabalha no complexo hospitalar.
 O cirurgião se orgulha de atender no hospital e relata que a crescente demanda exige maiores investimentos em infraestrutura e pessoal. Ele comenta que o contingente que chega para ser atendido no hospital cresce inversamente proporcional aos investimentos em melhorias das condições de trabalho e modernização da unidade médica.
 O mesmo pensamento é compartilhado pelo médico residente Victor Joh Han, de 26 anos. “Se houvesse um gerenciamento melhor dos pacientes que chegam aqui, a situação seria diferente”, analisa. Há quase dois se especializando em cirurgia geral, o médico afirma que para quem não conhece a realidade do hospital, há um estranhamento inicial.  Mesmo assim, ele não se arrepende de ter escolhido o hospital para fazer residência. Para ele, o que seus mentores tem a ensinar, supera qualquer dificuldade.