domingo, 24 de abril de 2011

DE NOVO. A GUERREIRA


“Não penso ser candidata, mas toparei o desafio”
POR: Anna Ruth Dantas - Repórter

Fisionomia tranquila, semblante calmo. A ex-governadora Wilma de Faria, presidente estadual do PSB, surge na sala do apartamento dela, no bairro de Areia Preta, para conceder a entrevista. Além da aparência, mais serena do que quando estava no poder, a Wilma de Faria de agora chega acompanhada de uma cadelinha. “Minha coelhinha. Vai Xuxa”, ordena ao animal de estimação, antes de começar a entrevista. A referência de “coelhinha” é pelo adorno de rosas de coelho colocadas na cadela em referência ao período de Páscoa. Logo a ex-governadora Wilma de Faria se posta na mesa, pronta para começar a entrevista.
Durante todas as perguntas manteve o mesmo tom de voz, exceção de quando foi questionada sobre os escândalos, já transformados em processos judiciais, envolvendo familiares seus. Nesse momento, o semblante ganha um tom de emoção, a voz soa mais contundente ao afirmar: “Quero que tenha justiça na história que construí na minha vida pública. Foi história de dedicação, de amor, muito trabalho, muita luta, essa história não pode ser manchada. Minha vida é aberta a todos”. Ao falar do Governo Rosalba, Wilma de Faria enaltece o trabalho realizado quando esteve a frente do Estado. Ao avaliar a prefeita de Natal Micarla de Sousa já demonstra um discurso de crítica, em um prenúncio da campanha do próximo ano. No entanto, confessa que tem evitado críticas “ferrenhas”, porque essas já surgiram da própria população. A líder política do PSB diz que está se dedicando a organizar o partido e estruturar para o pleito 2012. Aliás, embora com a explícita cautela, é claro o desejo dela de ser candidata a prefeita da capital potiguar. As articulações já foram deflagradas, inclusive com outros pré-candidatos. Wilma de Faria confirma que já conversou com os deputados federais Fábio Faria (PMN), o deputado estadual Fernando Mineiro, o ex-prefeito Carlos Eduardo e até com a prefeita Micarla de Sousa. Não descarta qualquer aliança, com exceção do DEM.
Confira a entrevista que ela concedeu a TRIBUNA DO NORTE.
Como está sendo o seu trabalho político depois de passar pelo governo e hoje não ter mandato?
Atuo como sempre atuei. Evidente que agora atuando mais porque tenho mais disponibilidade. No Governo eu não tinha (disponibilidade), até queria passar o partido para outro membro, mas eles preferiram que eu continuasse (na presidência do PSB). Atuo conversando com os nossos companheiros dos municípios, atendendo a eles quando vêm aqui ou quando perguntam. Atuo na conversa, no diálogo com nossos filiados e também fazendo encontros com deputados, como fiz semana passada, com deputados estaduais. Foi uma reunião que não divulgamos, não convocamos imprensa, mas fazemos sempre essa reunião para discutir.
Como presidente do PSB qual sua preocupação?
Nossa preocupação é com as eleições do próximo ano. Todo partido tem que se preocupar com as eleições e com a organização do partido, em primeiro lugar. Eu estou preocupada junto com nossos companheiros com a organização do partido em cada município e algumas mudanças que poderão existir em função de interesses em cada município. Cada eleição municipal é uma história, os municípios não são iguais e estamos preocupados em conciliar alguns problemas que possam existir. Vamos também começar uma campanha de filiação. Estamos preparando também encontros para fazer um trabalho de capacitação política dos nossos filiados e os que ainda irão chegar.
Na semana passada, o ex-governador Iberê Ferreira defendeu o seu nome como candidata a prefeita de Natal. A senhora aceita essa convocação?
Veja bem, pessoalmente não me coloquei à disposição para ser a candidata. Não é meu desejo. Não que eu não queira ser prefeita, é um cargo que exerci com muito zelo, muita dedicação, no entanto, eu gostaria que houvesse uma outra candidatura do próprio PSB ou aliança com outros partidos. No entanto, se o partido chegar à conclusão que tenho de ser candidata a prefeito para que o partido cresça mais, para que possa atingir uma situação melhor e que possamos chegar a vitória, eu toparei esse desafio. Nem sempre a gente faz o que quer. Quando você tem espírito público e eu me considero uma pessoa que tem espírito público, você tem que fazer o que é melhor para coletividade. Você tem que pensar no bem estar de todos e no fortalecimento do partido.
A senhora disse que “nem sempre faz o que quer”. E o que a senhora quer hoje?
Hoje eu quero que o partido cresça, que nós tenhamos uma filiação, mesmo na oposição. Estamos no Estado do Nordeste que não é fácil fazer oposição, precisa de coragem, de desempenho maior em termos de mobilização, quero que cresça (o PSB), se fortaleça e possamos continuar desenvolvendo em cada município um trabalho em favor da população.
Seu nome já foi cogitado para diversos postos em 2012, inclusive vereadora, onde a senhora seria a “puxadora” de voto. Como recebe esse tipo de comentário?
Recebo com muita tranquilidade. Na verdade, o que tem acontecido é uma coisa um pouco mais forte, que é a candidatura à prefeitura.
Ainda é desafio voltar à Prefeitura do Natal?
É um grande desafio porque Natal cresceu, a população cresceu, temos grandes desafios para promover o desenvolvimento econômico e social. A capital tem situação diferenciada porque é maior em população e importância do que muitas outras capitais da região Nordeste, portanto, é um grande desafio.
Como a senhora avalia hoje a administração da prefeita Micarla de Sousa?
É uma administração que não está agradando a população, há reclamações em relação ao IPTU. Não só em relação ao aumento do tributo, mas também em relação a todo trabalho que foi feito quando as pessoas acham que o IPTU está acima do valor real, do valor venal da casa. Há problemas em relação a isso. Há problema em relação a transporte de massa. Temos problemas graves em relação a trânsito, que é competência do município. A mobilidade social também tem muitos problemas. E ainda há as questões sociais que são problemáticas. Tem também a saúde pública.
Dizem que exatamente por essas dificuldades da atual prefeita, a eleição do próximo ano será mais “fácil” para quem chega com o discurso de oposição pela fragilidade da gestão. A senhora concorda?
Eu não tenho procurado fazer críticas ferrenhas à prefeita tendo em vista que a própria população já enxergou isso. A população não tem muito trabalho de fazer essa colocação. Eu sinto muito que os aliados de Micarla, ao invés de ajudá-la, se distanciaram no momento que ela mais precisa.
A senhora se refere ao senador José Agripino Maia?
A todos. A todos aqueles que estão saindo do barco dela. O barco está numa situação difícil e, portanto, é necessário a gente lembrar isso.
Como está a sua relação com o ex-prefeito Carlos Eduardo, que também deverá ser candidato a prefeito de Natal?
Minha relação com Carlos Eduardo é muito boa. Sempre que ele me procura para conversar estou à disposição. Quando eu o procuro tenho a mesma reciprocidade. Estamos muito bem, mas cada um no partido diferente.
Essa proximidade da senhora com o ex-prefeito Carlos Eduardo traria palanques separados em 2012 ou juntos?
Por enquanto separados. Não há nada definido sobre palanque junto. Só o futuro vai dizer.
E o deputado federal Rogério Marinho, que lançou a candidatura dele a prefeito de Natal?
É natural. Cada partido já colocou candidatura. Acho que vamos ter um elenco de candidatos. Será bem disputada a eleição de Natal.
Qual será o papel de Iberê Ferreira em 2012?
Ele vai nos dar grande apoio em regiões que ele tem um trabalho. Gostaria que ele pudesse ajudar não só na região do Trairi, mas também pudesse fazer trabalho em outras regiões como Seridó, Agreste. Fazer crescer o partido que ele vai somar conosco.
 Este é o momento mais delicado do PSB, que não tem nem prefeitura de Natal nem o governo?
Começamos do nada. Tínhamos poucos, quase nenhum prefeito. Quando comecei no PSB o partido não tinha nenhum prefeito eleito. Hoje temos um número grande de prefeitos. Temos número grande de vereadores.
 Levando em contas os possíveis candidatos (DEM), Fábio Faria (PSD), Fernando Mineiro, Carlos Eduardo (PDT), Micarla de Sousa, Hermano Morais (PMDB), quem seria hoje já aliado do PSB na disputa?
Já recebi em minha casa vários dos possíveis candidatos a candidato. Recebi o deputado Fernando Mineiro, o deputado Fábio Faria, o ex-prefeito Carlos Eduardo. E conversei com a prefeita Micarla de Sousa. Minha vida é clara, transparente. Essas pessoas todas pediram para conversar comigo e não me furtei a conversar, a debater, discutir. Mas nosso lugar é na oposição à Prefeitura de Natal e ao Governo. Nosso lugar é na oposição no sentido de fazer oposição responsável. Não entrar com picuinha e não manchar imagem da vida pública de ninguém. Queremos o Estado bem administrado, com rigor, justiça. Veja que os indicadores sociais de 2003 a 2009 (Estado é o menor índice de pobreza absoluta). A renda domiciliar é a segunda melhor do Nordeste. O crescimento do PIB foi um dos maiores também. Quero que o crescimento continue.
Quais são os políticos mais suscetíveis de fazer aliança com a senhora?
Essa é uma pergunta que não devo responder. A política é dinâmica. Acho que não devo responder, minha resposta é esta. Não posso responder agora porque senão não poderia conversar com mais ninguém.
Quem são seus opositores políticos?
Estou fazendo oposição ao Governo do Estado. Na verdade a gente sabe que a política é dinâmica. Não temos problema para conversar com outro partido.
 Nem com o DEM?
O DEM é mais difícil. Mas a gente pode conversar até com o PSDB.
 Por que mais difícil com o DEM?
Porque existiu perseguição muito grande em cima da gente, em cima do PSB.
Saindo da administração municipal e seguindo para estadual. Como avalia os primeiros meses da nova governadora?
É muito difícil você cobrar resultados nos primeiros dias. Difícil fazer avaliação em poucos meses e ver quais as metas alcançadas. No entanto, eu cobrei plano de governo, planejamento, transparência, temos um portal da transparência, se foi criticado deveria ser aperfeiçoado e não deixar de existir. Cobrei tudo que foi compromisso em praça pública e também comece a aparecer aquilo que precisa ser realizado. Naturalmente, que a gente vai ter uma oposição responsável, vigilante. Uma pessoa como eu, que sou determinada, corajosa, não tenho medo de enfrentar, é necessária dar o tempo. Mas à medida que as coisas forem acontecendo a gente vai chamando atenção.
E o governo federal? O que há de concreto para a sua nomeação para a Sudene?
O que existe é que fui convidada pelos nossos companheiros para participar do Governo da presidenta Dilma. Eu disse que estava à disposição, evidente que era importante que fosse de acordo com meu perfil. Mas quem tem experiência de ter sido prefeita de Natal e governadora do Rio Grande do Norte, naturalmente tem condição de assumir qualquer cargo público. No entanto, fico no guardo. Essa questão não deve ser colocada por mim, mas pela presidenta e pelo presidente do partido, o governador Eduardo Campos.
Como a senhora avalia os escândalos, já transformados em ações judiciais, que citam familiares seus em ilegalidades cometidas no seu governo?
Eu acho que são coisas que têm que chegar ao final. Eu sempre fui muito rígida enquanto administradora. Nos problemas sempre que houve qualquer dúvida afastei as pessoas, secretários, assessores. Isso não significa que essas pessoas sejam culpadas, mas elas são investigadas.
Esses processos podem emperrar nomeação sua para cargo federal?
Eu não tenho absolutamente nada. Quero que tenha justiça na história que construí na minha vida pública. Foi história de dedicação, de amor, muito trabalho, muita luta, essa história não pode ser manchada. Minha vida é aberta a todos. Todo mundo sabe que sou a mesma pessoa em relação a patrimônio. Isso me deixa muito tranquila. Está aí meu imposto de renda. Tudo que é meu está muito claro, tudo de acordo com meus salários e a renda que eu tinha.
Mas os escândalos envolvem familiares da senhora...
Mas não significa que seja justo. Isso não é justo. Alguns não eram nem funcionários do Estado e nem exerciam cargos comissionados. Agora não vou defender uma coisa que eles próprios estão se defendendo. Espero que a justiça faça justiça.
 Há até uma curiosidade das pessoas: a senhora dedica seus dias a que, depois que deixou o governo?
A política, a estudar uma pesquisa que pretendo fazer para o meu doutorado. Fiz só mestrado, minha vida acadêmica foi interrompida por inúmeros cargos públicos no Executivo. No Legislativo talvez tivesse mais facilidade de fazer essa parte (de estudar) que eu gosto também.
 A senhora voltou à universidade?
Estou voltando para fazer o doutorado na área de Educação. Mas ainda não voltei, estou estudando que plano a gente vai fazer.
 O poder faz falta?
O poder é transitório. Agora a população do Rio Grande do Norte quis e determinou através de eleição que eu ficasse muito tempo no poder. Eu fiquei 9 anos e três meses na Prefeitura de Natal e 7 anos e 3 meses no governo do Estado.

Fonte: PANORAMAPOLÍTICO