domingo, 17 de abril de 2011

A VEZ DE IBERE


Nada de novo no governo Rosalba

POR: Anna Ruth Dantas - Repórter
Horário marcado e pontualmente cumprido. Fato comum tanto no período de governador quanto na fase pós-poder estadual. A diferença do Iberê Ferreira desta entrevista para a do então governador Iberê está na pasta transparente com muitos papéis que ele traz nas mãos. Indício de que o líder político está pronto para divergir, contestar, defender sua gestão diante das denúncias e afirmações feitas pela governadora Rosalba Ciarlini.
O ex-governador Iberê Ferreira rompe o silêncio para a imprensa com críticas diretas à governadora Rosalba Ciarlini, ao mesmo tempo em que demonstra preocupação com os pleitos eleitorais de 2012 e 2014.  Para as disputas municipais ele lança o nome da ex-governadora Wilma de Faria como a candidata do PSB a prefeito de Natal; para 2014 admite a intenção de ser candidato a deputado federal.
Enquanto as disputas não chegam, Iberê alimenta o desejo de ocupar um cargo no Governo Federal. O mais provável é que seja uma diretoria do Banco do Nordeste. O ex-governador se mostra tranquilo, diz não estar preocupado se terá ou não espaço na gestão Dilma Rousseff. Pelo contrário, afirma ter avisado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que a “fila” no Rio Grande do Norte indica primeiro um cargo para Wilma de Faria e depois para ele. Embora comente que não tem uma posição de liderado da presidenta estadual do PSB, mas de aliado, Iberê Ferreira demonstra uma clara preocupação de fazer “blindagem” do Governo que herdou de Wilma de Faria. Durante os mais de 40 minutos de entrevista, em momento algum ele criticou a gestão dela. Admitiu que pegou uma administração com R$ 150 milhões de débitos, mas prefere não creditar apenas a Wilma de Faria.
Ele não contesta os números expostos pelo Governo Rosalba Ciarlin, de que deixou R$ 800 milhões em dívidas. Para contra-argumentar cita recursos federais que teria deixado já disponibilizados para investimentos, inclusive na área de moradia e saneamento. Aliás, a pasta que traz com muitos documentos reserva também uma planilha detalhada dos recursos federais que não deu tempo Iberê Ferreira aplicar.
Quatro meses depois de ter deixado o poder o ex-governador se mostra uma pessoa tranquila, diz estar vivendo um bom momento da vida, mas pelas declarações e indicações está explícito que trabalha nos projetos políticos eleitorais para os próximos anos. São planos de quem superou os recentes problemas de saúde (em menos de um ano retirou dois cânceres).
Confira os principais trechos da entrevista de Iberê Ferreira a TRIBUNA DO NORTE:
O que o leva a romper o silêncio exatamente agora?
Em primeiro lugar acho que todo governante que assume tem de implantar seu estilo. Achei que ela (a governadora Rosalba Ciarlini) iria assumir o Governo e precisaria de algum tempo para que pudesse implantar o seu estilo de governo, fazer as nomeações. E achei que o mais ético era não interferir até porque corria sério risco de terminar em bate-boca. Passados os 100 dias, resolvi dar uma palavra porque me surpreendi. Nesse tempo que esperei que ela pudesse tomar pé e implantar novos projetos eu não encontrei nenhum novo projeto, nenhum planejamento de governo. O que vi foi o governo usar esse tempo e na hora que começou a ser cobrado dos compromissos assumidos ela resolveu olhar no retrovisor, ao invés de mostrar a solução. Então tudo para ela era responsabilidade do Governo passado.
Chamou atenção os números das dívidas de R$ 800 milhões. O senhor assume que seu governo deixou esse valor em débitos?
 Uma coisa é dívida contraída no período em que estive no governo. Outra coisa é dívida que vem de exercício anterior. Para mim é uma coisa só porque o governo é impessoal. Não são dívidas de Iberê, nem de Wilma, nem e Rosalba. São do governo. E elas (as dívidas) foram contraídas por  interesse do governo. Pelo menos se não for assim o Tribunal de Contas vai tomar providências. Na realidade não contrai dívida de R$ 800 milhões. Agora não contesto os números. Quando assumi o governo tinha dívida do exercício anterior que só aí eram R$ 150 milhões. O orçamento do Estado, por exemplo, tinha um valor para pessoal, sem os aumentos. A Assembleia estava na fase política e mexeu no orçamento e aí só nessa rubrica de pessoal retiraram R$ 250 milhões. Deixaram sem o dinheiro de um mês de meio de pagamento (de pessoal). Quando assumi o governo já faltavam R$ 250 milhões para pagar o pessoal. Foram os 13 planos de cargos e salários aprovados pela Assembleia e que o sindicato negociou comigo e tive que pagar 30% em novembro do aumento, que deu impacto de R$ 80 milhões. A grosso modo, somando tudo, veja que só aí tem R$ 500 milhões.
E os R$ 300 milhões foram contraídos na sua administração?
Tem coisas contraídas na administração passada. Não entro muito nesse detalhe. O Estado vai crescendo, as necessidades da sociedade aumentam geometricamente e a receita não acompanha no mesmo ritmo. Quando ela (Rosalba Ciarlini) assumiu o Governo disse que tinha encontrado R$ 611 mil em caixa. O Governo tem muitas contas. Ela deve ter pinçado uma conta e tinha esse valor. Mas na realidade naquela época nós tínhamos R$ 538 milhões. Tínhamos R$ 23 milhões para o Pro-saneamento, Prodetur 2 era R$ 22 milhões, Promoradia era R$ 50 milhões, Protransporte havia R$ 100 milhões, Desenvolvimento Sustentável foi destinado R$ 56 milhões.
Mas isso são recursos federias apenas para investimento...
São recursos federais, outros internacionais. Mas recursos já a disposição do Governo. E negociando tínhamos outros programas como mobilidade urbana, iria para R$ 1,3 bilhão no total.
Mas com esses recursos ela não pagaria dívida?
Esses são recursos para investimento. Mas sabe quanto ela arrecadou nos três primeiros meses de 2011? R$ 1,6 bilhão. Paga R$ 211 milhões de pessoal. Preciso lembrar também que em janeiro quando ela teve arrecadação enorme, e o fato gerador da arrecadação foi todo em dezembro. Mesmo que ela diga que o débito é de R$ 800 milhões, veja que a arrecadação do Rio Grande do Norte para este ano prevê R$ 9 bilhões. Você tem o Estado devendo menos de 10% do que vai arrecadar no ano. Isso não é dívida de quem está falido. É falácia quem diz que o Rio Grande do Norte está quebrado. O que a governadora tem que fazer é olhar para frente.
O senhor assumiu um ônus pesado ao silenciar na transição Wilma de Faria-Iberê Ferreira?
Continuo dizendo que governo é impessoal. As dívidas que existiam no Estado não foram de Wilma, eram dívidas do governo. O que poderia fazer? Ficar falando de Wilma? Assim são todos os governos.
Qual foi a herança que Wilma de Faria deixou para o senhor?
Deixou o governo como todos os governantes de Estados pequenos deixam. Mas deixou também alguns projetos em negociação, outros já negociados, faltando complementar. Isso é absolutamente normal. Em um Estado pequeno para governar tem que ser ousado.
Wilma de Faria deixou uma herança complicada para o senhor ao ter aprovado no último dia de governo diversos reajustes para os servidores? Aumentos que seriam para o seu governo pagar?
Era direito dos servidores. Os servidores precisavam ter aquilo. Foi para Assembleia, foi aprovado, e não tinha dotação orçamentária.  Por isso sofri tanto.
Então foi inconsequência da governadora Wilma ao enviar um projeto para o qual não tinha dotação orçamentária?
Mas a Assembleia também não poderia ter aprovado. Mas isso é coisa do interesse do Estado. Ela (Wilma de Faria) não fez para ela, fez para o Estado. Não fico culpando. O povo é que vai julgar.
A minha impressão nesse momento é que o senhor está muito próximo de Wilma e fazendo uma blindagem para não mostrar os problemas e dívidas da gestão dela. Estou certa?
Essa minha preocupação faria com ela ou com qualquer outro. Hoje (quinta-feira passada) vi o presidente Obama anunciando cortes e não citou o governo passado nenhuma vez. Tem que acabar com essa história de falar do governo passado.
A governadora Rosalba Ciarlini afirmou que fez pela Copa de 2014 em Natal em 100 dias o que o Governo passado não fez em dois anos. Como o senhor avalia essa declaração?
Faço justiça, Wilma de Faria foi ousada em 2009 quando teve coragem de fazer o projeto, que foi premiado da Arena das Dunas. Ela ousou. Se não tivesse havido essa ação, o que em 100 dias a governadora Rosalba ia fazer? Se estava fora (Natal fora da Copa do Mundo) o que ela (Rosalba Ciarlini) iria fazer? Acho que não diminui ninguém ser justo. Wilma fez a parte dela, depois de Wilma, embora interinamente, eu fiz a minha parte, criei a Secretaria Especial da Copa, começamos a preparar a Parceria Público Privada, tivemos que fazer a legislação da PPP, isso leva um tempo razoável. Depois fizemos as audiências públicas. Tudo isso tem prazo. Fiz a minha parte. Depois da licitação deserta publiquei novo edital cuja abertura ia se dar no Governo dela (Rosalba Ciarlini). Se eu quisesse prejudicar era só não ter publicado o novo edital. Publiquei o edital. Tenho convicção que fiz a minha parte e agora ela faz a parte dela. Agora como ela iria fazer a Copa se Natal não tivesse sido escolhida sede em 2009?
O senhor está sendo injustiçado pela governadora, pelo julgamento das pessoas com o seu governo?
Acho (que estou sendo injustiçado). Tenho sido injustiçado pelo radicalismo. As pessoas são levadas pelo radialismo a dizer coisas que tenho certeza que não dizem de coração. Tenho absoluta convicção, não acredito que determinadas pessoas estejam dizendo coisas com relação a mim com consciência tranquila. São pessoas que estão sendo levadas pelo radicalismo e lamentavelmente ainda têm momentos que aumentam, diminuem, mas ainda existe.
E o político Iberê Ferreira. O que faz a partir de agora?
O cidadão Iberê está cuidando da saúde, graças a Deus estou bem. Veja que passei um período difícil. Em um ano operei dois câncer. Um em março e outro em janeiro. Estou cuidando da minha saúde, estou tomando pé das minhas coisas que estavam abandonadas. O mais importante é que estou feliz. Estou tão feliz. Não tenho ansiedade.
Enveredando pela sua situação política, em 2012 o senhor será candidato ou aliado de candidato?
Não serei candidato. Serei aliado de candidato.
E em 2014 o senhor projeta uma candidatura a deputado federal?
É possível. Se eu estiver bem, se estiver com a mesmo vigor que estou hoje, me interessando por ajudar o Estado, posso ser candidato a deputado federal. Se não, não serei e ajudarei o meu Estado. Estou vivendo um bom momento da minha vida.
Como estão as negociações para o senhor assumir um cargo no Governo Federal?
Já passei por uns cinco lugares (ele ironiza pelas informações que são veiculadas na imprensa sobre possíveis cargos que ocuparia). Isso é uma função da presidente da República. O presidente do meu partido, o governador Eduardo Campos, ele me disse que o PSB tinha conversado com o Governo e queria ter a presença de pessoas do Rio Grande do Norte. E queria ter uma presença no Governo da presidente Dilma. Em princípio falou na Sudene e desde o primeiro momento eu disse que se nós fossemos ter um lugar, um representante do Rio Grande do Norte, deveria ser a ex-governadora Wilma de Faria. Respeito fila, ela foi ex-governadora, ex-prefeita, é presidente do partido há muito tempo. O direito é dela. Ele (Eduardo Campos) me disse que me achava um bom quadro do partido e disse que levaria meu nome para sugerir também. Eu disse a ele que se puder representar bem na posição que por ventura possa aparecer eu aceito. Mas disse a ele que ficasse tranqüilo que eu continuaria no PSB, ajudando no que for possível.

O senhor preferia o Banco do Nordeste, Sudene ou uma coordenação do Ministério da Integração?
Quem tem de decidir isso é o Governo Federal que vai analisar e me convidar, se for o caso.
O senhor disse que permanece no PSB. Defende candidatura própria em Natal?
Em princípio sim. Defendo candidatura própria em Natal. Acho que precisamos ter o maior número possível de candidatos se não vamos ter uma queda muito grande. Nos Estados pequenos o Governo tem sempre uma força maior.
Quem seria o nome do PSB para disputar a Prefeitura de Natal?
O nome em Natal é Wilma. Eu não vejo outro nome no PSB com a densidade eleitoral da ex-governadora.
É o momento de ela retornar?
Você já fez a entrevista com ela?
Ainda não. Estou querendo saber a opinião do senhor sobre isso...
Analisando friamente acho que não tem no partido um nome com mais expressão em Natal do que a ex-governadora. Estou junto com o partido.
O senhor é aliado ou liderado da ex-governadora Wilma de Faria?
Eu sou aliado. Sou do partido e ela é também.

FONTE: TRIBUNADONORTE