CONGRESSO EM FOCO 1
RN é destaque na série de reportagens sobre Oligarquias Políticas no Brasil
Como adiantei ontem, o Rio Grande do Norte não tinha como ficar de fora da série de reportagens iniciada pelo site Congresso em Foco (www.congressoemfoco.com.br), sobre oligarquias políticas no Brasil. A primeira reportagem foi sobre os políticos e suas origens no estado da Paraíba. Hoje, lá vem o RN com sua tradição tão familiar.
Eis a reportagem dividida em 3 capítulos.
É tanta gente que um só ficava pequeno para detalhar suas ramificações..
TRÊS FAMÍLIAS DOMINAM O RIO GRANDE DO NORTE
Dos 13 parlamentares que assumiram o mandato pelo estado na atual legislatura, oito são dos clãs Maia, Alves e Rosado. Nenhuma bancada tem poder tão concentrado em núcleos familiares como a potiguar
Edson Sardinha e Renata Camargo
O pai senador chama o filho de nobre deputado. O filho senador chama o pai de nobre senador e o primo, de nobre deputado. A deputada chama o primo, seu adversário político, de nobre deputado. Na bancada do Rio Grande do Norte no Congresso é assim: política se faz em família. Mais especificamente por três famílias.
Nenhuma bancada tem o poder tão concentrado nas mãos de tantos parentes como a potiguar. Dos 13 parlamentares que assumiram o mandato na atual legislatura pelo estado, oito carregam um dos três sobrenomes: Maia, Alves ou Rosado. Outros três deputados também têm parentes na política. Apenas dois parlamentares – a deputada Fátima Bezerra (PT-RN) e o senador Paulo Davim (PV-RN), suplente em exercício – não são de família política.
O senador que chama o filho de nobre deputado é José Agripino Maia (RN), ex-líder do DEM no Senado. O filho senador que chama o pai de nobre colega é o licenciado Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), herdeiro do também senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), tio do deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). A deputada que chama o primo de nobre deputado é Sandra Rosado (PSB-RN). Ela e o primo deputado Betinho Rosado (DEM-RN) representam duas alas da família que se digladiam pelo poder local.
Líder do PMN na Câmara, Fábio Faria também vem de linhagem política. Seu pai, Robinson Faria, foi presidente da Assembleia Legislativa por duas legislaturas e atualmente é vice-governador. Eles são parentes distantes da ex-governadora Wilma Faria (PSB). Outros três deputados potiguares têm berço político: Rogério Marinho (PSDB), neto do ex-deputado Djalma Marinho e filho do suplente de senador Valério Marinho; Paulo Wagner (PV), neto do ex-vereador de Areia Branca (RN) Euclides Leite Rebouças, e João Maia (PR-RN), primo distante de Agripino e Felipe Maia, é irmão do deputado distrital Agaciel Maia (PTC), ex-diretor-geral do Senado.
Mídia e herdeiros
Além da tradição política iniciada em meados do século passado, as famílias Maia, Alves e Rosado têm em comum o controle de importantes veículos de comunicação, como rádios, TVs e jornais, e a preparação de herdeiros políticos na linha de sucessão, uma mostra de que seu poderio está longe de acabar.
Filho do ex-deputado e ex-governador Tarcísio Maia, primo do ex-governador Lavoisier Maia, Agripino tem no filho Felipe Maia, de 37 anos, seu sucessor político. Os dois são sócios da TV Tropical, afiliada da Record no Rio Grande do Norte, e de emissoras de rádio que fazem parte da Rede Tropical.
A influência política dos Maia transcende as divisas do Rio Grande do Norte. O tio de Agripino, João Agripino Maia foi senador e governador da Paraíba, berço da família. Recém-empossado na presidência do Democratas, o senador é também primo do ex-prefeito do Rio César Maia (DEM), pai do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente do DEM.
Pais e filhos
Licenciado do mandato desde o início do ano, quando assumiu o Ministério da Previdência, Garibaldi Alves Filho teve pouco tempo para dividir a bancada com o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Ex-vice-governador, Garibaldi Alves herdou a vaga da ex-senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN), de quem era suplente, com a eleição dela para o governo do estado. Garibaldi pai e Garibaldi Filho já preparam sucessor: o deputado estadual Walter Alves (PMDB), de 30 anos, filho do ministro da Previdência.
Mais idoso entre todos os senadores, com 87 anos, Garibaldi Alves tem no sobrinho outro detentor de impressionante marca. Aos 62 anos, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves é atualmente o deputado mais antigo da Câmara, aquele que detém o maior número de mandatos. Na Casa desde 1971, Henrique Eduardo caminha para um recorde: está no 11º mandato, mesma marca alcançada pelo ex-deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP). Ele chegou ao Congresso logo após a cassação do pai, o ex-deputado, ex-governador e ex-ministro Aluizio Alves.
Historicamente ligada ao PMDB, a família Alves também tem hoje ramificações no PDT: é o irmão de Aluizio e Garibaldi, o deputado estadual Agnelo Alves (PDT-RN). Ex-prefeito de Natal e Parnamirim, Agnelo chegou a ocupar uma vaga no Senado como suplente. O filho dele, Carlos Eduardo Alves (PDT), foi prefeito de Natal e concorreu no ano passado, sem sucesso, ao governo do Rio Grande do Norte.
A família Alves criou o Sistema Cabugi de Comunicação, do qual fazem parte a InterTV Cabugi, afiliada da Globo no Rio Grande do Norte, e emissoras como a Rádio Globo Natal e a Rádio Difusora (Mossoró), e o jornal Tribuna do Norte, periódico presidido por Henrique Eduardo Alves.
Rosado x Rosado
Os Rosado também têm seus veículos de comunicação, como a TV Mossoró, a FM 93, o jornal O Mossoroense, e a Rede Potiguar de Comunicação (RPC). Casada com o primo e ex-deputado Laíre Rosado, Sandra também tem herdeiro político: Lahyre Rosado Neto (PSB) é vereador em Mossoró e a filha Larissa Rosado (PSB) é deputada estadual.
Sandra e Betinho encabeçam dois grupos que rivalizam dentro da própria família. Os Rosado comandam a política em Mossoró, segunda maior cidade do estado, há mais de meio século (link para matéria sobre os Rosado). Na falta de rivais fora da família, os Rosado se tornaram os principais inimigos dos Rosado.
Uma ala, liderada por Sandra e seu marido, o ex-deputado Laíre Rosado, seu primo, deixou o antigo PDS para se abrigar no PMDB em 1985, onde ficou até 2004, quando passou para o PSB. A outra, capitaneada pelo ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado (PFL), marido da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), comanda hoje o governo estadual. Carlos é irmão de Betinho Rosado e primo-adversário de Sandra e Laíre.
CONGRESSO EM FOCO 2
Mossoró agora tem "capítulo" na história das oligarquias políticas do RN
Mossoró: um capítulo à parte na reportagem do site Congresso em Foco, que começou ontem a série de reportagem sobre as oligarquias políticas nos Estados brasileiros.
Sempre tratada como um parágrafo na história das oligarquias comandadas por Alves e Maia, Mossoró ganhou capítulo depois que elegeu a governadora do Estado.
Eis o capítulo:
EM MOSSORÓ, SÓ DÁ POLÍTICO NA ÁRVORE DOS ROSADO
Atualmente, oito integrantes da família exercem mandato eletivo, incluindo a governadora Rosalba. Núcleo familiar só perdeu uma eleição desde 1948 e disputa entre si o poder local
Edson Sardinha e Renata Camargo
Um dos municípios mais prósperos do interior do Nordeste, Mossoró (RN) é o maior produtor de petróleo em terra e de sal marinho do país. Mas o solo da cidade, localizada a 285 km a oeste de Natal, produz mais que “ouro negro” e riqueza mineral. Brotou-se ali, no semiárido potiguar, uma das árvores genealógicas mais férteis de que se tem notícia na história recente da política brasileira: a família Rosado.
Atualmente, oito integrantes do clã exercem mandato eletivo, a começar pela governadora Rosalba Ciarlini Rosado (DEM), que renunciou ao Senado para assumir o governo no início do ano, passando pelos primos deputados federais Betinho Rosado (DEM-RN) e Sandra Rosado (PSB-RN), por dois deputados estaduais e dois vereadores e terminando na prefeita da cidade, Fátima Rosado (DEM), a Fafá. Do início do século passado pra cá, essa árvore já frutificou dois governadores, dois senadores, cinco deputados federais e sete prefeitos, além de diversos vereadores.
Desde 1948, os Rosado perderam as eleições municipais uma única vez, em 1968. Ainda assim, por uma diferença mínima de 98 votos, e para um candidato que havia exercido o cargo anteriormente com o apoio deles. Até o final dos anos 70, só havia duas formas de ser prefeito de Mossoró: ser da família Rosado ou ter o apoio dela. Mas, nas últimas três décadas, só há uma maneira. Tem de ser necessariamente da família.
De 1982 pra cá, a cidade de 250 mil habitantes teve apenas quatro prefeitos, todos Rosado. Dix-huit Rosado exerceu dois mandatos, Rosalba Ciarlini, três, e Fátima Rosado está em seu segundo governo. Sandra Rosado chegou a exercer o mandato por 70 dias com a morte do tio, Dix-huit, de quem era vice, em outubro de 1996. Mas quem disse que não há oposição aos Rosado em Mossoró? Existe, sim, e é exercida por... adivinhe quem? Pelos próprios Rosado.
Rivalidade familiar
Dois grupos disputam o poder dentro da própria família: a ala liderada hoje pela governadora Rosalba e seu marido, o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, e pelo irmão dele, o deputado Betinho Rosado; e o grupo encabeçado pela deputada Sandra Rosado e seu marido, o ex-deputado Laíre Rosado. Ele é primo de Sandra e de Carlos Augusto e Betinho. Pelo lado materno, Sandra é também prima de Rosalba.
Uma rivalidade que começou a se ensaiar nas eleições de 1982, ganhou força no pleito de 1986 e se escancarou de vez na disputa de 1988, quando, pela primeira vez, os Rosado se enfrentaram diretamente nas urnas. Naquele ano, a então pedetista Rosalba venceu o confronto com Laíre Rosado e conquistou o primeiro de seus três mandatos como prefeita de Mossoró.
Desde então, o grupo da atual governadora só perdeu uma das seis últimas eleições municipais para a outra facção da família. Foi em 1992, quando Dix-huit Rosado, que tinha a sobrinha Sandra como vice, se elegeu pela terceira vez. Com a morte do tio ainda no cargo, coube à vice-prefeita concluir os últimos dias de seu mandato.
Sucessão
O grupo não conseguiu mais retomar a hegemonia política. A principal aposta do grupo de Sandra e Laíre Rosado para reconquistar a prefeitura de Mossoró é caseira. Aos 36 anos, Larissa Rosado, filha do casal, lidera as pesquisas de intenção de voto para 2012. Deputada estadual em terceiro mandato, ela perdeu duas vezes a eleição municipal para a atual prefeita Fafá, que deu seus primeiros passos na política pelas mãos de Sandra. A relação entre as primas azedou. Mais que adversárias, a deputada e a prefeita são hoje inimigas declaradas. Uma não dirige a palavra à outra, no melhor estilo grande família.
Os primeiros sinais de desavença política na família ocorreram em 1982, quando o então deputado estadual Carlos Augusto Rosado contrariou as orientações do tio Vingt Rosado e declarou voto no primo e hoje senador José Agripino Maia ao governo do estado. Pai de Sandra, o ex-deputado Vingt Rosado apoiou o grande adversário dos Maia, o ex-governador Aluizio Alves (PMDB). Agripino saiu vitorioso das urnas.
O troco viria quatro anos mais tarde, quando o confronto ficou mais explícito. O grupo de Carlos Augusto apoiou João Faustino e perdeu a eleição para o candidato de Vingt Rosado, o governador Geraldo Melo. Desde então, os galhos da árvore genealógica iniciada pelo patriarca Jerônimo Rosado nunca mais penderam para um lado só.
O patriarca
Nascido em Pombal, na Paraíba, em 1861, o farmacêutico Jerônimo Rosado desembarcou em Mossoró em 1890 e lá fincou as raízes da família na política. Entre 1917 e 1922, foi eleito duas vezes intendente – espécie de prefeito à época – de Mossoró.
O patriarca teve 21 filhos de dois casamentos – três do primeiro e 18 do segundo – com as irmãs Maria Amélia e Isaura Maia. Jerônimo e Isaura recorreram a uma maneira excêntrica para nomear os filhos: incluíram algarismos em francês em seus nomes, conforme a ordem de nascimento. Foi assim a partir da 11ª filha – Laurentina Onzième (décima-primeira, em francês) Rosado até o caçula Jerônimo Vingt-un (21, em francês) Rosado Maia, passando por Jerônimo Dix-sept Rosado, que passaria à condição de mito local ao morrer num desastre aéreo menos de cinco meses após assumir o governo do Rio Grande do Norte, em 1951.
O PODER DOS ROSADO
Núcleo familiar tem nove integrantes no exercício do mandato e outros três cargos de primeiro escalão na prefeitura de Mossoró
Rosalba Ciarlini Rosado (DEM-RN)
Governadora do Rio Grande do Norte. É casada com o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, que é primo de Sandra. Rosalba é prima de Sandra pelo lado materno, da família Escóssia.
Betinho Rosado (DEM-RN)
Deputado federal, primo da deputada Sandra Rosado (PSB-RN)
Sandra Rosado (PSB-RN)
Deputada federal, prima do deputado Betinho Rosado (DEM-RN)
Fátima Rosado (DEM), a "Fafá"
Prefeita de Mossoró. É prima e adversária de Sandra, ligada ao grupo da governadora Rosalba Ciarlini. Também é prima do deputado Betinho Rosado.
Ruth Ciarlini (DEM)
Vice-prefeita de Mossoró. É irmã de Rosalba é prima de Sandra Rosado.
Larissa Rosado (PSB)
Filha de Sandra e Laíre Rosado, é deputada estadual
Lahyre Rosado Neto (PSB), o "Lairinho"
Filho de Sandra e Laíre Rosado, é vereador em Mossoró
Marcos Giovane Rosado (PR), o "Marquinhos Churrasco"
Vereador em Baraúna - cidade distante 32km de Mossoró. É filho do empresário Tarcísio Rosado, que é primo de Sandra, Betinho e Carlos.
Leonardo Nogueira (DEM)
Deputado estadual. É marido da prefeita de Mossoró, Fátima Rosado.
Também ocupam cargos de primeiro escalão em Mossoró:
Noguchi Rosado
Secretário da Controladoria do Município, é irmão de Fafá Rosado.
Gustavo Rosado
Chefe de Gabinete da Prefeitura, é irmão de Fafá Rosado.
Alex Moacir Pinheiro
Secretário de Serviços Urbanos, genro de Noguchi Rosado.
CONGRESSO EM FOCO 3
Rosalba, integrante da família Rosado, diz que não existe Oligarquia
A reportagem do site Congresso em Foco dedica um capítulo especial à governadora Rosalba Ciarlini. Rosado.
ROSALBA REFUTA OLIGARQUIA E DIZ QUE POVO ESCOLHE
Governadora diverge do marido, o ex-deputado Carlos Augusto Rosado, que diz que a família é “uma oligarquia desde 1890”. Para ela, termo é pejorativo e Mossoró “respira liberdade”
Edson Sardinha e Renata Camargo
“Somos uma oligarquia desde 1890. Todos os nossos mandatos foram conquistados com o voto”, diz o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado (DEM-RN), antes de ser “corrigido” pela mulher, a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM). “Eu não aceito e considero inapropriado esse termo, que é pejorativo. Acho que ele se expressou mal. Não somos uma oligarquia, porque fomos eleitos livremente. O povo é que escolhe”, diverge a governadora. Os dois conversaram com o Congresso em Foco no saguão do Aeroporto Internacional de Brasília na noite da última sexta-feira (1º).
Rosalba ocupa hoje o cargo mais elevado entre todos os Rosado, família para a qual entrou há 36 anos após se casar com o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado. Prefeita de Mossoró por três mandatos, Rosalba é prima, pelo lado materno, de uma das principais lideranças da ala adversária da família, a deputada Sandra Rosado (PSB-RN), também prima de Carlos Augusto.
“Nossos primos são nossos grandes adversários, mas o nosso grupo é hegemônico”, afirma o ex-deputado. “Quando éramos jovens, nossa luta era da pedra para o fuzil. Agora já estamos velhos”, acrescenta ele, lembrando que a disputa entre os dois grupos já foi mais acirrada.
A governadora diz que poucos fazem política na família Ciarlini e que começou sua vida política no PDT, diferentemente do marido, que foi da Arena para o PFL, hoje DEM, partido de Rosalba. “Minha família é tão grande que tenho 37 tios. Só eu e minha irmã Ruth (Ciarlini) entramos para a política. Não temos tradição”, conta. Ruth é vice-prefeita de Mossoró, na gestão de Fátima Rosado (DEM-RN), prima de Carlos Augusto.
“Mãos limpas”
O ex-deputado estadual afirma que o segredo da longevidade dos Rosado no poder em Mossoró se resume a “trabalho, realizações e mãos limpas”. “Somos bisbilhotados o tempo todo. Nossa presença na política é oxigenada pelo voto”, diz. “Mossoró respira liberdade”, emenda Rosalba, antes de destacar que o município aboliu a escravatura em 1883, cinco anos antes da Lei Áurea, e abrigou o primeiro sindicato, a primeira eleitora e a primeira reitora do país. “E a primeira mulher a presidir a Unimed, que foi Rosalba”, acrescenta Carlos Augusto, referindo-se à cooperativa de médicos.
O casal diz esperar que seus filhos não sigam a vida política. “Eles só terão meu apoio para entrar na política se estiverem bem resolvidos, porque não considero a política uma profissão, mas uma atividade”, afirma a governadora. “Nossa família era riquíssima. Empobrecemos na política. Restou apenas o patrimônio da atividade política”, afirma Carlos Augusto Rosado.
Rosalba tem a missão de ser a primeira Rosado a concluir o mandato no governo do Rio Grande do Norte. Antes dela, apenas o sogro, Dix-sept Rosado, havia alcançado o degrau mais alto do Executivo potiguar. Mas o mandato foi interrompido precoce e tragicamente por um desastre aéreo, menos de cinco meses após a posse de Dix-sept como governador em 1951.
“Falácia” e “imaginário”
Alvo de 26 processos na Justiça movidos pela prefeita Fátima Rosado, o jornalista e blogueiro Carlos Santos diz que é uma “falácia” a declaração da governadora de que em Mossoró se respira “liberdade”. Dono do blog mais acessado na região, ele atribui as ações a que responde ao perfil crítico de seu trabalho.
“Minha visão em relação aos Rosado é que eles possuem mérito para tamanha longevidade e apogeu. O patriarca Jerônimo Rosado preparou os filhos para o poder, investindo em densa formação educacional, baseada a partir de seus princípios positivistas", afirma.
Jornalista há 26 anos, ele diz que a família procura dar uma “aura mitológica” para legitimar seu poderio. “É frágil a tese de que tudo foi conquistado pelo voto e, por isso, é democrático. Na verdade, temos uma atmosfera social e institucional aparelhada há decênios, para dar uma aura mitológica e de legitimidade a esse poderio. Boa parte deles tornou-se profissional da política e vive dela, ao contrário do que ocorria nos primórdios, na primeira e segunda geração Rosado", considera.
Autor da tese de doutorado Memória e imaginário político na (re)invenção do lugar: os Rosados e o país de Mossoró, o geógrafo José Lacerda Alves Felipe diz que a exaltação de feitos históricos da cidade, como os citados por Rosalba, são uma característica da família. “Mesmo sem ter participado desses fatos, eles tentam se incluir neles”, explica o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
“Na sociedade local, eles se confundem com os heróis locais e seus feitos. A historiografia da cidade é recontada por eles, que selecionam fatos heróicos e históricos. Eles fazem com que a sociedade confunda esses mitos com eles mesmos. As coisas que eles criam é como se tivessem cumprindo uma ordem dos antepassados”, acrescenta Lacerda.
Fonte: thaisgalvão